segunda-feira, 8 de agosto de 2016

MINHA VIAGEM COM LSD




“Vácuo, meu querido Vácuo
Eu não sou assim de fino trato pra beber nos tragos     
Minha paciência é passageira
Eu sempre fico por um triz
Quando a noite é de bebedeira
Vem a ressaca me deixar infeliz.”

Nossa, mas que bosta é essa que eu acabei de escrever?

PS: Você ganha pontos extras se cantou no ritmo.






Vácuo, Hoje eu vou contar umas das minhas viagens de acido que tive. Eu já tomei essa maravilha diversas vezes e em diversas ocasiões, mas essa aventura que vou lhe contar foi especial, pois era a primeira vez que eu tomei sozinho, trancado no meu quarto onde apenas o silencio e os meus medos eram as minhas parceiras.



PREPARAÇÕES:





Eu não cheguei em casa e já fui tomando o doce que nem um tonto e fiquei lá no meio da bagunça emocional junto com a bagunça do meu quarto. Não Não.
Eu sou um cara que analisa tudo, mas tudo mesmo e tudo a longo e curto prazo. Eu sempre penso nas possibilidades que cada ação tomada pode levar.
Então, na semana em questão, eu calculei para sexta, assim que eu chegar do trabalho.

Na quinta, eu havia deixado meu quarto arrumado, deixei tudo limpo, Além de gostar das coisas em ordem, eu prezo pelo meu quarto sempre bem organizado, pois lá é o meu templo e eu também não iria querer ficar procurando algo no meio da bagunça quando estivesse louco de tudo.


Eu iria ficar dentro do meu guarda roupa, sim, Vácuo, dentro do guarda roupa. Bom, você deve estar pensando: “Nossa, mas que otário, tá querendo ir pra Nárnia? Huehuhue”.
Ir para Nárnia não era o meu proposito, pelo menos não dessa forma. O meu guarda roupa é uma puta de cabine sonora particular, a minha missão era achar um ambiente fechado que ampliasse o grave das musicas.
Então, eu tirei as roupas, coloquei o amplificador já regulado lá dentro, meti um adaptador P2 na entrada e testei o som. Nossa, ficou muito foda o som, o grave estava tão bom que chegava a desentupir o nariz.
O melhor de tudo é que o guarda roupa ampliava o som e também não deixava que o som incomodasse os vizinhos, ou seja, eu poderia gritar e morrer lá dentro que ninguém iria encher o saco.
Ok, com o quarto e o som arrumado, eu só tinha que descansar e me preparar para o dia seguinte.


ANTES DE TOMAR.



Na sexta, eu cheguei do trabalho e fui jantar logo para a comida ir já descendo e não prejudicar em nada.
Para se ter uma boa viajem, sem náuseas ou corte de brisa, é necessário uma alimentação bem saudável, 
Tá, é meio estranho falar isso não é? Ser saudável para usar acido...

Enfim, comi algo sem gordura e tomei uns dois copão de suco natural de laranja. Vitamina C ajuda muito a substância fluir no organismo com glória.
Feito meu desjejum, eu tomei um banho, coloquei um roupa leve, tranquei minha porta e coloquei o doce debaixo da língua. Isso já eram umas 20:15.



PRIMEIRO PICO.



Já eram agora 20:20, eu sabia que os efeitos não iriam tardar a chegar, eu já estava sentindo uma leveza, um leve suor frio e tudo começava a ficar mais nítido.
A principio eu queria ver qual era o grau que aquele acido daria, pois ai eu já iria saber como lidar. Então, eu coloquei um vídeo que fizeram do álbum Dark Side of the Moon do Pink Floyd na minha tv, fora uma ótima escolha, pois aquele álbum é envolvente de inicio ao fim.
Sentei no chão e fiquei assistindo o clip dali mesmo, logo, no final da musica Breathe eu já estava viajando e me deixava levar pelas maestrias das cores e espetáculos de harmonias.
No final da Time, eu voltei a ficar normal e pensei : “Nossa, esse acido tá do caralho”.
Não perdi mais tempo, peguei meu celular, desliguei a luz do meu quarto e a tv e entrei no meu guarda roupa.


MALES E VIRTUDES




Eu estava com vários pressentimentos e sensações ruins quando entrei no guarda roupa.
 Primeiro foi que eu me sentia um idiota por estar lá (quem nesse mundo toma doce e entra em um guarda roupa?), senti que eu iria entrar na bad monstra, que iria virar um claustrofóbico, que não daria nada além de dor nas costas, que os vizinhos iriam roubar a minha brisa, que eu iria ficar maluco, porém, a única coisa que me motivou mesmo a continuar, foi o medo do desconhecido, a curiosidade e ansiedade de pensar no que estaria me esperando na imensa escuridão do meu ser. Eu de fato iria pela primeira vez enfrentar e conhecer cara a cara os meus males e virtudes.







DENTRO DO VAZIO




Eu coloquei o som no amplificador e deixei a musica fluindo. Na playlist só tinha musica instrumental.
A primeira que começou foi uma de violino. Nossa, estava com um qualidade muito boa.
Os pensamentos ruins de que tudo iria dar errado se foram assim que as primeiras notas da musica foram soando.
Eu nunca me senti tão bem em toda minha vida, eu estava muito relaxado, o som parecia que estava me carregando, me levando para a infinidade de melodias, é como se eu estivesse em um concerto celestial.


Assim que entrou o violoncelo na musica, com aquele som grave melódico, com o ar deliciosamente mórbido, meu corpo começou a formigar inteiro, começando pela minha testa.
A escuridão que me engolia, começou a se tornar uma paisagem e tudo começou a ter formas até chegar em um cenário.

Eu me vi em uma estrada deserta, eu estava em pé em uma infinita estrada reta que ia desaparecendo no horizonte, estava ensolarado, não havia nada além de mim, poeira e a estrada.

Eu sempre tive o fascínio desse tipo de cenário. Eu ainda faço questão de ainda viajar pra algum lugar assim.


Então, eu comecei a andar, sentido  sul da pista e na minha concepção, eu devia estar andando há dias, mesmo notando que o sol não se movia do lugar.
Eu comecei  a ficar sedento e cansado, então eu parei, e fiquei vendo em minha volta, na tentativa de encontrar algo ou alguém. Tudo em vão, pois o vazio e o silencio dessa estrada estava no auge.

Logo, eu cai de joelhos no chão,e no desespero  peguei um monte de poeira e apertei com força. Então, eu ouvi:

-Hey, eu estava te esperando.

Dai, eu olho para trás assustado, pois eu tinha acabado de ver que não havia nada e ninguém. Então vejo uma mesa redonda arrumada, enfeitada com flores, cheia de bules, biscoitos, torrões de açúcar, enfim, uma autentica mesa de chá britânica.



Nela havia dois lugares, uma vazia e a outra estava ocupada por um abutre.
Sim, um abutre.

“Estava lhe esperando. Não vai se sentar?” disse o abutre para mim.

Eu me levantei, puxei meu assento e sentei.
Naquele cenário, em que um urubu falante e uma mesa de chá britânica aparecem do nada, era a coisa mais normal do mundo. Eu também não iria recusar o convite de um urubu na altura desse campeonato.
Eu fiquei quieto, olhando o urubu nos olhos, olhei para o cenário desértico que estávamos.
O urubu deu bicadas para tomar o chá que lhe foi servido (?) e disse:

-Está tão vazio aqui ultimamente! .Mal consigo enxergar os horizontes com tanto nada existente.
O que você tem feito ultimamente?. Bom, eu fico apenas voando o dia inteiro todos os dias.
Você sabe como eu sou não é? Não consigo ter limites, eu não tenho medo e eu me lembro de quando minha mãe disse para respirar e não ter medo de voar, pois nessa vida você vai sorrir e também chorar...

Assim que ele terminou, ele deu mais uma bicada em seu chá e olhou para mim.
Eu fiquei boquiaberto, não tinha o que falar ou fazer.

“Não vai tomar o seu chá?” ele falou comigo.

Então, eu olhei para o meu copo e vi que estava vazio.
Dai, então tudo começou a distorcer e escurecer.  A minha percepção começou a captar a musica novamente e eu voltei do transe.
Achei que havia se passado a noite inteira, mas havia se passado apenas 2 horas.
Nossa, eu fiquei desnorteado na escuridão, pensando no que acabou de acontecer. PQP um urubu bolado do chá acabou de falar uma par de groselhas pra mim (???)


Eu dei uma pausa e sai do guarda roupa para respirar um pouco. Eu estava muito louco ainda, meu quarto inteiro mexia, era muita informação passando na minha cabeça, então. eu respirei e  eu mantive o controle e coloquei os meus pezinhos na terra novamente.

Cara, um urubu tomando chá...


REFLEXÃO.


Como eu havia ficado cerca de 2 horas atrofiado dentro de um espaço pequeno, eu fiquei todo podre.
Então, desliguei meu ampli, peguei agora meus foninhos e rumei para a minha cama, pois era ali que eu iria brisar agora.

Eu ainda tava muito louco e pensei comigo “Nossa, eu quero me perder no vazio, quero ir para as estrelas e ver o que mais posso trazer de lá. Já não sinto o medo de ir tão além”
Eu perdi todo o meu medo, todos aqueles paradigmas de que se usar esse tipo de coisa você perde o controle de si mesmo e poder  ter uma brisa tão forte que você vai acabar nunca mais voltando da terra da loucura e se perder na duvida e eterna do que é real ou fantasia.

 É claro que existem substancias, quantidades, fatores, variedades e as maneira de se usar as coisas, vão acabar de te deixando que nem o Syd Barrett, E ai, meu amigo, cabe a você determinar o seu nível de controle e ver se seu físico e psicológico aguenta essas poha.

OBS: Vê se não dar uma de covarde revoltado e se entupir de porcaria só pra chamar a atenção dos papais, seu viado. Faça o que você quiser com consciência e responsabilidade. 


You reached for the secret too soon



ULTIMO PICO.



Eu fiquei sentando na minha cama, apenas olhando as imagens aleatórias que iam passando na minha tv.
Eu estava ouvindo musica com os fones na orelha e logo entrei em transe.
Parecia que as imagens estavam vivas, saindo da minha tv e flutuando ao redor do meu quarto.

Eu  desliguei a tv, deixei uma luminária acessa no meio do quarto e me deitei de costas na cama.
Estava muito confortável, o frio que fazia no momento estava ajudando a manter o ar de tranquilidade. Eu adoro esse sentimento de paz com frio.


Eu senti meu corpo se afundando na cama, entrando e se aconchegando na paz.
Então, começou a tocar uma musica, e novamente fui sentindo meu corpo formigar, mas foi de uma maneira diferente da que senti dentro do guarda roupa.
Parecia que a minha essência estava saindo do corpo, como se ela estivesse sendo hipnotizada e guiada pela musica. Minha essência vibrava junto com a música.
Comecei a sentir que eu estava fora do meu corpo, não enxergava nada e então senti que alguém, estava me levantando, mas não era alguém, ara alguma coisa enorme.

Essa coisa me pegou carinhosamente com as suas imensas mão e me tirou do vazio e começou a me levar para algum lugar em meio a escuridão.
Eu perguntava quem era e para onde estava indo. Minha voz ecoava alto e claro naquele lugar.
Eu não obtinha respostas, logo só me restou permanecer quieto e aguardar o meu destino. 
A coisa me deixou na ponta de um desfiladeiro e na minha frente havia uma caverna. Eu consegui ver algo brilhante vindo de lá dentro, era luz de como se houvesse uma fogueira lá dentro.







Eu fui chegando mais perto da entrada da caverna e pude ouvir a voz mais doce que já ouvi na minha vida. A voz era de uma mulher cantarolando lá dentro e sua voz angelical ecoava divinamente  até os meus ouvidos.
Eu entrei na caverna e fui seguindo a luz. Quanto mais eu chegava perto da fonte da luz, mais belo e alto ficava a doce voz.
Quando achei a fogueira, eu percebi que o som saia do próprio fogo. Era algo tão encantador, tão lindo...
Sentei em volta da fogueira e fixei meu olha na hipnotizante dança do fogo e me deixei levar pelo canto.
Quando me dei conta, eu percebi que estava no cenário do No Man's Wharf do Dark Souls II e que estava de fato sentado na bonfire aonde se encontra a Lucatiel de Mirrah, nesse momento, infelizmente, eu voltei do transe.



 FINAL

Depois dessas epopeias, eu fiquei cansando e com uma fadiga mental do caralho. Parecia que eu tinha acabado de prestar uma prova.


Sai do meu quarto, joguei uma água no rosto, preparei algum nescau quente e fiquei no meu quintal tomando um ar com os meus cachorros.
Acho que fiquei cerca de uma hora lá com os dogs olhando o céu e refletindo.
Pra mim, essa foi uma das brisas mais fodas que eu já senti na vida. Eu não me programei de usar doce em casa desde então, mas assim que eu me programar, eu falo pra você, Vácuo;


Forte abraço.



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